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sábado, 22 de janeiro de 2011

ATENÇÃO!!!

Estudo Cristão: Desviados
Faz quatro anos que os domingos do eletricista aposentado José Boaventura Boas, 56 anos, não são mais os mesmos. No primeiro dia da semana, ele gosta de ficar no bar com os amigos, jogar dominó, discutir os resultados da rodada, observar as mulheres, beber e freqüentar bailes. Até pouco tempo, ele vivia uma outra realidade. Tinha uma rotina tão agitada que mal conseguia parar para almoçar no dia em que normalmente as famílias se reúnem.
Durante os 25 anos que liderou, implantou e pastoreou igrejas de três denominações da Assembléia de Deus, os domingos de Boaventura começavam cedo com as aulas da escola dominical. Na seqüência, visitava casas de irmãos, doentes nos hospitais e ainda liderava evangelismos nas ruas de Praia Grande (SP). À tarde, quando conseguia um tempo livre, ele usava para preparar a mensagem que ministraria no culto da noite. “O envolvimento com a obra de Deus era um marco em minha vida.”
Entretanto, por causa de desavenças, uma história iniciada em 1º de dezembro de 1979 foi interrompida. Intrigas, mentiras, calúnias e acusações, jamais comprovadas, mas proferidas por seus líderes, o fizeram tomar uma decisão radical: abandonar a casa de Deus.
Boaventura integra uma categoria de crentes que não pára de crescer: os desviados. Estima-se que, atualmente, existam entre 30 e 40 milhões em todo o país. Comparando-se com os dados do último censo populacional, que revelou a existência de cerca de 27,2 milhões de evangélicos, a quantidade de “ovelhas perdidas” é maior do que a igreja oficial. Se esses ex-irmãos que foram evangelizados, discipulados e participaram de cultos permanecessem, a igreja brasileira seria de aproximadamente 70 milhões de crentes, ou seja, quase a metade da população, que é de 180 milhões. Antes de ser vista como uma “ameaça”, a existência desse enorme contingente deve ser compreendida por líderes de todo o Brasil – como um sinal de alerta de que algo não vai bem. Além disso, a realidade mostra que é preciso rever conceitos e práticas para que esse jogo possa ser revertido.
Pastor Sinfrônio Jardim Neto, presidente do Ministério Jesus Não Desistiu de Você, que há 14 anos atua na recuperação de afastados, acredita que a idéia dominante em muitas congregações, que prioriza templos lotados sem se importar com os que saem, é um dos ingredientes que colaboram para o problema acontecer. “Infelizmente, 90% das igrejas não estão preocupadas com aqueles que saíram. Porém, sabemos que buscar a ovelha perdida é uma visão que está no coração de Deus.”
Referência no assunto, com livros publicados e vários seminários e palestras ministrados no Brasil e exterior, ele explica que a reconquista é uma visão que a igreja perdeu ao longo dos anos, mas que atualmente se faz necessária para que os que saíram retornem. “Se a igreja não for atrás dos desviados, a maioria permanecerá no pecado e morrerá sem Deus. Para ser motivada nessa reconquista, a igreja precisa enxergar os soldados feridos com os olhos de compaixão do Senhor Jesus.”
Este, porém, não é um problema exclusivamente brasileiro. Basta lembrar que um dos motivos do enfraquecimento do Evangelho em muitas nações se deu basicamente porque as pessoas deixaram de ir à igreja e passaram a se ocupar com outras coisas. A grande diferença é que, no Brasil, ao mesmo tempo em que saem muitos, outro tanto acaba entrando, o que no final gera um equilíbrio. Para descobrir os motivos da evasão, a Life Way Research (www.lifeway.com) realizou um estudo nos Estados Unidos e percebeu que vários fatores influenciam-na.
Segundo o levantamento, 59% das pessoas decidiram abandonar a casa de Deus por causa da mudança de situação de vida (transferência de cidade, divórcio, nascimento de filhos, morte na família etc.). O desencantamento com os membros e pastores foi apontado por 37% dos entrevistados. A pesquisa também revelou que 19% estavam ocupados demais para participar das atividades da igreja; já 17% disseram que as responsabilidades da casa e família contribuíram para o afastamento. O comportamento dos próprios membros representou 17% dos ouvidos. E outros 12% revelaram dificuldades de envolvimento como maior empecilho.
Foi justamente para descobrir as causas que levam as ovelhas a se perderem que em outubro do ano passado a Faculdade Teológica Sul-Americana (FTSA), em Londrina (PR), promoveu sua V Semana de Estudos com o título “Decepcionados com a Igreja”. O evento, que contou com a participação de acadêmicos, integrantes da comunidade e a presença do pastor Caio Fábio, tentou encontrar respostas plausíveis para questões como: Por que as pessoas se decepcionam com suas igrejas? Quais são os motivos de suas frustrações e desilusões? Que principais motivos levam as pessoas a abandoná-las? “Um pastorado que não busca refletir e entender os motivos que as pessoas possuem para sair da igreja é um pastorado sem a perspectiva do cuidado. Cuidar é se importar”, alerta Jorge Henrique Barro, professor de Teologia Prática da FTSA. “O que deve nos motivar a refletir sobre este assunto é o exemplo de Jesus, que pergunta: ‘Qual de vocês que, possuindo cem ovelhas, e perdendo uma, não deixa as noventa e nove no campo e vai atrás da ovelha perdida, até encontrá-la? E quando a encontra, coloca-a alegremente nos ombros e vai para casa. Ao chegar, reúne seus amigos e vizinhos e diz: Alegrem-se comigo, pois encontrei minha ovelha perdida’”, frisa, citando Lucas 15.4-6.
LONGE DE CASA
Brigas internas, legalismos, decepções com a liderança, sensação de abandono, falsas profecias e promessas de prosperidade não concretizadas são os principais motivos, de uma lista imensa, que levam, cada vez mais, à não-permanência na igreja. Entretanto, é preciso deixar claro que nem todos os afastamentos são motivados por problemas eclesiásticos. Em muitos casos, eles acontecem devido a questões pessoais.
O morador de rua Fábio Paixão França, 37 anos, tem consciência de que seus próprios erros o afastaram do convívio da igreja. Com passagem em três congregações (Cristo é a Vitória, Bola de Neve e Cristo é a Resposta) e uma casa evangélica de recuperação de dependentes químicos, ele roga por uma nova chance: “Eu peço que Deus derrame mais uma gota de seu sangue para que possa ter vergonha e voltar a servi-lo da maneira correta”.
Longe da igreja, os desviados acabam adquirindo características e práticas parecidas. Normalmente, tornam-se arrogantes, frios e indiferentes. Embora estejam vivendo no pecado, ao mesmo tempo, alguns nutrem uma “fagulha de Deus acesa no coração”. O contato com pessoas que vivem longe do Senhor fizeram com que Jardim Neto descobrisse que alguns afastados sentem saudade de Cristo, temem o inferno, possuem a convicção do pecado e até desejam retornar. “Muitos, por acharem que estão livres de Deus, fazem coisas horríveis. Mas ainda existem aqueles que conservam parte do temor de Deus e se esforçam para não se entregarem completamente ao pecado.”
Na internet é possível encontrar páginas, comunidades e salas de discussões que reúnem afastados de várias idades e regiões do planeta. Nesses pontos de encontros virtuais, os membros conversam sobre vários assuntos, mas que geralmente estão relacionados à decisão que tomaram. Muitas vezes, utilizando-se do recurso do anonimato, integrantes abrem o coração e mostram-se arrependidos, como se vê neste depoimento postado na comunidade Desviados que Ainda Amam a Jesus, uma das maiores sobre o tema no Orkut: “Pra mim, foi o fim. Fiquei sem chão, mas depois percebi que teria de procurar um modo secundário de felicidade que nem se comparava à plenitude que eu havia provado ao lado de Cristo”.
COMO AJUDAR
Reginaldo von Zuben, professor de Teologia Sistemática da Faculdade Teológica Sul-Americana, explica que três pontos precisam ser priorizados pela igreja para que o número de desviados pare de crescer.
O primeiro é acentuar a teologia da graça. É necessário que ocorra um rompimento com a lógica mercantilista-individualista baseada na troca com Deus. “O critério para nos relacionarmos com Deus, assim como recebermos Suas bênçãos, se dá tão somente pela Sua graça, amor e benevolência.”
A manifestação ou o testemunho da graça no dia-a-dia da igreja é o segundo aspecto que deve ser ressaltado. O que dignifica e valoriza as pessoas, apesar da condição de pecadoras e sofredoras em que se encontram. “Esse ponto se torna um desafio imenso para a igreja, porque ela terá que abandonar preconceitos, moralismos, tradicionalismos e a prioridade em ser rica, grande e vistosa”, diz.
O terceiro é a preocupação com o cuidado que as pessoas devem ter em suas fragilidades e problemas. “Muitos abandonam a igreja por não se sentirem acolhidos, seguros e assistidos.
A teologia do cuidado é fundamental hoje em dia em toda e qualquer forma de missão, discipulado, grupos pequenos, culto e atendimento pastoral.”
LAR AFETADO
José Wanderley Vieira Gomes não lê mais a Bíblia e não consegue orar há quase um ano. O “esfriamento” começou quando problemas conjugais surgiram em seu casamento de 22 anos. A crise levou José e a esposa à separação. Além do fim do matrimônio, toda a família de evangélicos – o casal e cinco filhos – deixou a igreja. No mesmo período, o patrimônio familiar praticamente desapareceu. Wanderley vendeu duas casas e perdeu um carro num negócio onde o comprador levou e não pagou. Hoje, ele vive endividado e distante da casa de Deus, mas prefere ser otimista: “Tudo o que o inimigo me tirou, Deus vai me dar de volta”.
A presença da igreja na vida de Wanderley é tão marcante que, no trabalho, os companheiros o chamam de “abençoado”. O apelido foi dado por seu chefe que, após anos de convívio, percebeu que muitas das vezes em que o irmão orava, os pedidos se concretizavam. Numa das ocasiões, um roubo que geraria muitos prejuízos à empresa foi solucionado depois que ele clamou ao Senhor. “Tudo aquilo que pedia prosperava”, recorda. O ex-evangelista, dizimista e colaborador fiel da Assembléia de Deus Ministério de Santos sabe que precisa retornar à igreja para que as bênçãos voltem a fazer parte de sua história. “Um dia eu volto, e acredito que Deus fará muitos milagres em minha vida.”
Os reflexos das modificações ocorridas nos últimos anos na família Boas podem ser constatados observando a casa onde moram. Depois que Boaventura deixou suas atividades na congregação, a alegria deu lugar a um sentimento de tristeza. A Bíblia, que era o livro que regia as decisões de toda a família, foi esquecida num canto. Dos cinco integrantes, apenas Maria da Luz Norberto Boas, a mãe, continuou na caminhada com Cristo.
Mas nem sempre foi assim. Nos tempos em que Boaventura estava ativo, o sobrado onde residia – uma área construída de 320 metros quadrados, no bairro Quietude, em Praia Grande – era tão freqüentado pelos irmãos que era considerado uma extensão da igreja. Além da presença constante dos crentes, o local abrigou a rádio Novas de Paz FM, que além de ser um instrumento de propagação do Evangelho, conseguiu um feito: a regularização junto ao Ministério das Comunicações.
Com sete quartos, era o porto seguro de missionários, evangelistas, pastores e irmãos que visitavam a cidade para cumprir o “ide” de Jesus e onde sempre encontravam abrigo. Olhando para tudo o que aconteceu, Maria da Luz sente saudades dos momentos alegres e ora pelo retorno do marido para continuar a boa obra: “Eu creio no meu Senhor. Um dia Ele vai me dar vitória e trazer os meus para a casa dEle. Criei os meus filhos na igreja, que nasceram num berço evangélico; não os entreguei ao mundo, mas ao Senhor. A Palavra de Deus diz que quanto maior a luta, maior a vitória”.
Boaventura tem certeza de que abandonar a igreja, onde vivenciou “momentos de sublime alegria”, não foi a melhor decisão que poderia ter tomado. No entanto, os anos de afastamento não foram suficientes para que esquecesse os muitos ensinamentos aprendidos na época em que a Bíblia foi a sua fiel companheira. Ele recorda, por exemplo, que saber perdoar é uma atitude que faz diferença na vida de qualquer cristão. Infelizmente, isso é algo que ele não consegue mais praticar. “Por tudo o que fizeram comigo, eu que sou o errado. Deus não mandou eu me desviar da igreja, não mandou eu sair da frente do trabalho. Os homens me expulsaram. Mas, para a nossa felicidade, temos, em cada esquina, uma igreja aberta. Se alguém quiser morar no céu, tem que ter o dom do perdão. O maduro em Deus sabe perdoar o inimigo, aquele que fez o mal. Isso é a coisa mais importante, a essência do Evangelho, mas é aí que estou me perdendo”, desabafa, emocionado. “Foi muito mais fácil eu sair do samba, do envolvimento com mulheres alheias, da cachaça, da maconha e aceitar a Jesus, por quem eu chorava de alegria quando estava na igreja, do que, agora, voltar.”
AÇÕES ISOLADAS
Apesar de ser um problema estarrecedor, ainda são poucas as igrejas que se preocupam em recuperar irmãos desviados. Uma que concentra esforços para ajudar ovelhas a encontrarem novamente o caminho é a Assembléia de Deus em Augusto Vasconcelos, no Rio de Janeiro. Desde 1997, o ministério realiza, anualmente, a Cruzada de Restauração Jesus Não Desistiu de Você, a partir dos métodos do pastor Jardim Neto. Nesse período, as cruzadas têm conseguido resultados significativos. Em média, cerca de 100 ex-evangélicos retornam à igreja por ano. Durante a cruzada são realizados cultos e quem recebeu três visitas é convidado para o evento.
Para conseguir esse resultado e reconquistar as almas feridas, pessoas da igreja são treinadas. Uns recepcionam os afastados e outros recebem orientações para atuarem na visitação. O pastor João Neres de Oliveira Neto, vice-presidente da igreja e responsável pelo ministério de resgate dos afastados, explica que a luta espiritual é intensa: “Geralmente, as pessoas desviadas estão feridas e nem querem ouvir falar de igreja. Na última cruzada, um visitante colocou uma faca em cima da mesa para intimidar os irmãos. Porém, com algumas palavras e o agir do Espírito, ele se acalmou”.
FILHO PRÓDIGO
Entre os 18 e 19 anos, Ari Rodrigues Cabral levava uma típica vida de crente. Membro da Igreja Universal, na Lapa (bairro situado na capital paulista), participava dos cultos, das atividades, dizimava, e logo viu a bênção de Deus se concretizar. “Vivia uma vida sem preocupações”, recorda. Entrando em plena juventude, acabou seduzido pelas luzes do mundo e aos poucos foi se afastando do convívio da igreja, até se desviar completamente.
Nesse período vivenciou muitas coisas marcantes. Com uma antiga namorada, foi pai de duas meninas. Com novas amizades, tornou-se usuário de drogas, entrou para a criminalidade e acabou cumprindo pena de seis anos de reclusão por roubo e homicídio. “Na época, Deus nem passava pela minha cabeça, eu só queria curtir.”
As iniciativas que auxiliam na recuperação de desviados só obtêm êxito se a pessoa der o primeiro passo em direção a Deus. Embora reconheça que ainda não esteja livre dos vícios adquiridos nos anos que passou nas ruas e na prisão, Ari quer esquecer tudo o que vivenciou. A fim de retomar uma história interrompida pelas ofertas mundanas, antes mesmo de completar uma semana de liberdade ele passou a freqüentar uma igreja evangélica na cidade de Santos. Buscando mudança profunda, fez uma promessa que pretende cumprir: “Eu e minha esposa iremos à igreja pelo menos duas vezes por semana”. Seja bem-vindo, irmão, pois Jesus Cristo o espera de braços abertos .
Uilians SantosHorário 19:16
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